Narrativas antropológicas: Dessintagmalizando
(Rafante)
A narrativa de hoje é assaz lacônica. No dia 24/01/18, às 20h, eu
estava junto a geladeiroteca do PAC quando ouvi - sem querer - dois
estudantes que se dirigiam à FCC (Contábeis) conversando.
Escutei-os nos entretermos sob os quais captei a seguinte mensagem
“Às vezes a gente dá mole. Eu fiz esse negócio, mas me
arrependo, porque até hoje eu tô sem moral com ela”. Não
consegui ouvir o resto da conversa, após o breve trecho do diálogo,
em razão da distância que os estudantes tomaram de mim. Aposto que
se tratava de um caso de “traição” de namorado, entretanto, não
tenho como firmar minha tese. Ocorre que a frase proferida sugere
senão uma atitude antimoral, uma atitude antiética. Por
conseguinte, nos últimos quinze dias, temos discutido reiteradamente
moral e ética e suas respectivas associações com a política. Um
bom exemplo é o fato de o juiz Marcelo Bretas ter acionado
judicialmente a União para que pudesse realizar o direito de receber
auxílio-moradia. A atitude do magistrado é discutível neste
âmbito, pois seu cônjuge é uma juíza que já recebe
auxílio-moradia e os dois residem em imóvel próprio. Outro exemplo
é o da nomeação da deputada Cristine Brasil para assumir a pasta
do Trabalho. Não bastasse ter sido condenada por duas vezes na
justiça do trabalho, Sua Excelência está envolta em denúncias de
corrupção por superfaturamento em locação de veículos
particulares com verba da Câmara Federal. Em referência aos fatos,
o Exmº Min Sr Carlos Marun disse que não entende como amoral ou
imoral a nomeação da deputada. Nessa perspectiva, é interessante
destacar a moral como um conjunto de princípios que norteia a vida
humana e a ética como uma reflexão acerca desses princípios.
Destarte, tanto a moral quanto a ética são passíveis de serem
discutidos em âmbito social, sem embargo, a ética liga-se
intimamente aos costumes ou hábitos, motivo pelo qual tem privilégio
para ser esquadrinhada na seara da coletividade. Isto posto, visto
que o prefixo “anti” notabiliza-se como partícula de oposição,
resta por evidente que antimoral e antiético são conceitos
expressos como inverso da moral e da ética. Não cabe expor, no
presente trabalho, o tratamento que os pensadores da Grécia Antiga
deram aos termos filosóficos citados, não obstante, algumas
simplórias (des)organizações sintagmáticas dignificam a
problematização ético-moral da frase pronunciada pelo estudante, as quais se seguem:
1) PORQUE
ATÉ HOJE EU TÔ SEM MORAL COM ELA, eu me arrependo
por ter feito esse negócio.
2) Eu me arrependo por ter feito esse
negócio, PORQUE EU ATÉ HOJE EU TÔ SEM
MORAL COM ELA.
3) Eu me arrependo, PORQUE ATÉ HOJE EU TÔ SEM
MORAL COM ELA, por ter feito esse negócio.
Por fim, espero que as trocas sintagmáticas frutifiquem a reflexão
acerca dos conceitos de antimoral e antiética. O fato é que, no
final do degredo auditivo, alegrei-me ao retirar do congelador, em
pleno calor de verão, um livro cuja capa retratava o Sr. Roman
Jakobson. Tenho a leve impressão de que farei um contrato de
enfiteuse para o livro em questão.