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Você é machista, moça?

(Rafante) Conversas de bar regadas à música e bebidas às vezes nos conduzem por caminhos desconhecidos. Não sei exatamente se as duas crases acima coadunam-se com a relação sintagmática ora exposta, mas é incontroverso que há no mínimo uma polêmica acerca do vocativo em epígrafe. Para entendermos bem a questão é necessário, inicialmente, termos a noção de que vivemos em uma sociedade segregacionista, adepta da cultura da violência e que tem estrutura basilar determinada pelos ditames da propriedade privada dos meios de produção. Explicarei em detalhes... A superestrutura social composta por elementos midiáticos, legais, consuetudinários e por toda a miríade de insumos que dá sustentação ideológica a pilhagem do trabalho e à manutenção do sistema de classes permite que, alguns de nós, reconheçamos que o esforço necessário para abolir o machismo é absolutamente superior ao esforço necessário para abolir o próprio sistema de classes sociais. Exatamente porque já havia machismo...

Narrativas antropológicas: Dessintagmalizando

(Rafante)       A narrativa de hoje é assaz lacônica. No dia 24/01/18, às 20h, eu estava junto a geladeiroteca do PAC quando ouvi - sem querer - dois estudantes que se dirigiam à FCC (Contábeis) conversando. Escutei-os nos entretermos sob os quais captei a seguinte mensagem “Às vezes a gente dá mole. Eu fiz esse negócio, mas me arrependo, porque até hoje eu tô sem moral com ela” . Não consegui ouvir o resto da conversa, após o breve trecho do diálogo, em razão da distância que os estudantes tomaram de mim. Aposto que se tratava de um caso de “traição” de namorado, entretanto, não tenho como firmar minha tese. Ocorre que a frase proferida sugere senão uma atitude antimoral, uma atitude antiética. Por conseguinte, nos últimos quinze dias, temos discutido reiteradamente moral e ética e suas respectivas associações com a política. Um bom exemplo é o fato de o juiz Marcelo Bretas ter acionado judicialmente a União para que pudesse realizar o direito de receber aux...

Narrativas antropológicas: Verba volant, scripta manent

(Rafante)       Banheiros são ambientes ricos por natureza. Certamente não estou considerando o banheiro em que se diz “depende do banheiro”, nem refiro-me a “por natureza” em sentido ortodoxo. Em Portugal, banheiros são denominados casas de banho; na França, toilettes; nos EUA, WCs (que não sei o que significa). Podemos chamar banheiro de lavabo, instalação sanitária, quarto de banho. Enfim, chamemos do que quiser desde que esteja explícito de que se trata de cômodo característico de imóvel essencialmente destinado a higiene pessoal.       Meu preâmbulo incomum inspira-se no fato de que fiquei impressionado, nesta manhã de 19 de Janeiro de 2018, quando li uma matéria jornalística no G1 que discorre sobre a vida de Rosana, uma advogada paulistana. Rosana levanta uma placa com o dizer “Faxina R$ 60,00 / 7h” todas as manhãs na zona sul de São Paulo, quando a média da diária é de R$ 380,00, de acordo com o sindicato das empregadas ...

Narrativas antropológicas: Artefacto

(Rafante)       Uma das questões mais intrigantes de que tenho conhecimento tem a ver com o significado da arte. O que é arte? Penso que podemos tratá-las (a questão e a arte) a partir de múltiplas perspectivas. Ao meu ver, arte se associa com qualquer atividade deliberadamente orientada a elaboração de expressões de cunho estético. Isto posto, não se trata, assim, por exemplo, de criticar genericamente a produção estética, tampouco trata-se de problematizar a estética, mas sim, do ato de conceber um artefato - objeto destinado a contemplação. Sabemos que artefato (feito com arte) é um significante polivalente, portanto, possui vários significados. Sendo, portanto, caracterizado como desde objeto inofensivo até objeto letal. O corre, todavia, que me parece que a língua portuguesa lida gramaticalmente com o vocábulo artefato como uma aglutinação de duas palavras. Essa impressão, colocada sem pormenores, dá a entender que estou negligenciando os termos, o que ...

Narrativas antropológicas: Desarquetipizando

(Rafante)      Paradigmas são sinônimos do ridículo. Paradigmas assim o são, principalmente para mim que sou anarquista. Em minhas primeiras aulas, na UFBA, fui obrigado a fazer um resumo acerca do conceito de espaço em Estrabão. Cheguei atrasado na aula, como sempre, e, não sei quem – alguma colega de que não me lembro agora – deu-me impresso (pasme!) um caderno com a NBR 6028:2003 para que eu pudesse formatar o texto. No primeiro mês do primeiro semestre?! Pois bem, a primeira iconoclastia que cometi ao entrar na Universidade foi queimar aquele caderno com uma bagana de cigarro. Destarte, posso dizer que Paul Feyerabend é inspiração para alguns de meus atos.        Quinta-feira, 13 de dezembro de 2017, 21:45h, ponto de ônibus da FAU-UFBA (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo). Marcelo e eu saímos juntos do IGEO-UFBA (Instituto de Geociências). Naquela noite eu havia ido um pouco mais cedo ao instituto, exclusivamente para que o...